"Nossas Lembranças" e um testamento

Posted on 22:19



Olho ao meu redor e só vejo as cinzas das minhas lembranças,do meu desejo. Está escuro por aqui há apenas uma pequena chama acesa no meio da sala que ainda se mantém viva ao terminar de queimar tudo o que restou daquilo que um dia foi anseio,foi desejo,foi sonho.Já nada é como antes,eu olho pela janela, nada mais tem cor por aqui, tudo está em ruínas.Este lugar que um dia criei com fortes vigas de esperanças,poderosas paredes de sonhos,sobre a profunda fundação de um dos cantos mais remotos do meu coração hoje se vê se destroçado por aquelas chamas de tons azulados bem escuros que chamamos de desilusão,mas hoje o melhor nome para elas é luto,pois assim define bem o cemitério que este lugar se tornou,um cemitério de lembranças e desejos. Um lugar que antes era como um templo onde me encontravas com você "o meu desejo" e te mantinhas vivo em mim hoje se resume a uma espécie de casebre abandonado com suas partes caindo por terra a abaixo,vazio,cinza e sem vida dentro dele tudo que ainda se mantém intacto é um velho retrato seu pendurado sobre a parede da sala bem na direção da janela,de onde eu costumava lhe observar correr e viver sua vida sem que você pudesse notar os meus olhares atentos e luminosos. Seu velho retrato sobre a parede hoje se perde em meios aos tons de cinza que domina este lugar e ele pra mim hoje, é como uma velha janela para observar o passado que um dia desejei,mas não há muito para lembrar já que minha lembranças estão pelo chão, transformadas em cinzas e as que me restaram estão ali, bem no meio da sala sendo consumidas pouco a pouco pelas,também poucas,chamas do que preferi chamar de LUTO. Meu rosto é invadido por lágrimas que escorrem sobre o mesmo arrancando de mim amarguras e desamores e ao tocarem o chão se tornam ácido e queimam não só aos meus pés como também o chão deste velho abrigo do "querer" e logo se revela abaixo dele um oceano de águas densas e muito,muito,muito escuras negras talvez que parece transbordar a medida que mais lágrimas vão caindo por onde o meu chão já foi corroído por outras lágrimas e se agregando aquelas densas e obscuras águas de saudade,aos poucos meus pés e canelas feridos pelo ácido que minhas lágrimas se tornaram, vão sendo tomados pela água  e o mesmo se sucede ao resto deste velho casebre,as chamas que antes existiam ali no meio da sala,se estinguem antes mesmo que as águas possam toca-las isto é o fim do que ainda me sobrava de lembranças. Lentamente meu corpo vai sendo tomado pelo cinza deste lugar,meu coração já não bate mais,lembranças? As ultimas acabaram de serem queimadas,já nem sei mais o que faço ali parado a observar sem mudar um centímetro sequer de minha posição aquele seu velho retrato cinza, pendurado na parede,neste momento minhas lágrimas já tomam o mesmo tom das águas que me banham os pés,preto, e passam a corroer também o meu rosto.Em instantes eu também já não tenho mais colorido,sou mais uma peça cinza,parada e quase afundada naquele triste cenário,mas ainda sim minhas lágrimas descem pelo meu rosto. De uma estante que fica ali na sala um ampulheta recai bem ao lado de um,já sem vida,jarro de flores sobre uma mesinha de canto a areia da ampulheta passa a correr de forma muito rápida, é o tempo se mostrando presente sobre a despedida.Da mesma forma que areia da ampulheta cai a água sobe,o desamor invade,a solidão toma posse,a desilusão se faz vitoriosa sobre este terreno e não demora muito até que tudo tenha sido tomado pela água e na superfície,o seu retrato,ainda intacto, boia e este,onde costumava o meu cantinho de lhe desejar, se transforma num vale que logo é invadido por sopro de vento gélido e sombrio é um ultimo Adeus...Em meu testamento de lembranças.

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